segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Hora da Ginástica, com Oswaldo Diniz Magalhães

Rádio Blog – O Rádio Faz História



Oswaldo Diniz Magalhães dando aula no programa "Hora da Ginástica"
































Atualmente, os alunos de Comunicação sorriem quando a gente fala que existiu durante 50 anos um programa de educação física pelo rádio. A ideia da “Hora da Ginástica” pode parecer ridícula hoje, quando existem academias em cada esquina da cidade. Mas imaginem nos anos 30 e 40, quando os homens não sabiam direito como os exercícios físicos eram benéficos para a saúde. Quando muito, alguns remavam, lutavam boxe,  jogavam futebol ou se exercitavam no clube do bairro ou no exército, pensando em participar de uma possível guerra. As mulheres só raramente faziam balé e preferiam, de longe, exercitar os dedos para tocar bem o piano para conquistar a família do futuro noivo!

Pois bem, o carioca Oswaldo Diniz Magalhães (1904-1998) teve uma grande ideia quando começou a se exercitar andando de bicicleta no começo do século passado e depois ao decidir fazer um curso para se formar em professor de educação física. Ele foi obrigado a ir para o Uruguai porque ainda não existia curso no Brasil. No país vizinho, ele leu uma estatística que o deixou amargurado: os brasileiros quase não se exercitavam e morriam cedo, vitimados por doenças facilmente tratáveis.

Oswaldo pensou então em propagar as maravilhas dos exercícios quando voltasse ao Brasil. Poderia usar o rádio, que começava a se popularizar nos anos 30, para a divulgação de suas aulas.  Ele estava cheio de ideais cívicos quando teve essa ideia.  Em seu depoimento, Oswaldo contou que penou muito para convencer os donos de estação de rádio dizendo que seria uma boa iniciativa oferecer aulas gratuitas todas as manhãs. Quanta decepção, ele escreveu. Mas eis que o proprietário da Rádio Educadora Paulista, que era médico e que também acreditava nos benefícios da ginástica, decidiu pedir uma aula-demonstração. Adorou o que viu e, em 1932, tinha início a “Hora da Ginástica”. O sucesso foi muito grande.

O subtítulo do programa explicava que era uma Escola de Saúde, Moral e Civismo. É interessante a gente notar que “a preocupação com a educação física e a associação entre esporte e civismo”, começou nos anos 30 com o Estado Novo, segundo nos ensina o historiador Maurício Parada no livro “Educando corpos e criando a nação” (Editora PUC Rio e Apicuri).  Antes de 1930, havia clubes e associações atléticas nos bairros, entre grupos de imigrantes. Aos poucos, os amadores ganhavam mais profissionalismo nas competições, ganhando algum dinheiro para se dedicar ao esporte predileto. Todos os jornais passaram a ter uma seção esportiva, o que mostrava que havia um mercado.  Mas para os militares, médicos higienistas e pedagogos, a ideia era “melhorar o tipo racial”. O conceito era bastante preconceituoso e elitista. Escolhiam um tipo humano, branco e atlético. Os outros eram considerados inferiores.

Na frente do microfone, com a ajuda de um pianista no estúdio, o professor convocava toda a família para acompanhar cada um dos exercícios usando ou não um simples bastão. As aulas começavam às 6h da manhã e, geralmente, era feita na sala da casa ou no quintal do ouvinte. Nas bancas, todos podiam comprar os mapas dos exercícios que iam se revezando conforme as ordens do professor.

Oswaldo dizia qual era o número do exercício que o ouvinte iria começar a fazer. Bastava que se colocasse como a figura e, depois, acompanhar os movimentos. O último exercício era uma corrida para o chuveiro. A imprensa questionou a validade das aulas já que não havia ninguém para corrigir os alunos, caso não estivessem realizando os exercícios de maneira adequada. Havia charges ridicularizando as pessoas tortas que não tinham entendido as ordens de Oswaldo. Nos anos 50, a dupla de humor do PRK-30 também ironizou as aulas do professor. Mas a caricatura era muito divertida. Vamos ouvir. 
  http://www.radioutrora.metodologica.info/2013/01/radioutrora-44-ulysses-galletti-hora-da.html
de 2:48 a 3:58 e de 3:59 a 6:10  (com PRK-30)

Estátua de Oswaldo na Praça Saens Peña

Um fato é correto: as pessoas deixaram de ser sedentárias e passaram a se sentir melhor com as aulas de ginástica. O programa mudou a vidas de muita gente. É lógico que repetiam as lições ufanistas ditadas pelo professor. O curso fazia tanto sucesso que a Rádio Nacional, a emissora mais popular do país, convidou Oswaldo, a partir de 1936, para dar aulas diariamente a partir do microfone na Praça Mauá. Ocorreu um boom na cidade. Não havia quem não conhecesse o programa, que teve reprises em outros horários. Todos o adoravam e, por isso, chegaram a criar uma Associação dos Radioginastas. Seguindo os conselhos que o professor dava durante as aulas eles faziam campanhas para ajudar os pobres, recolhiam roupas e alimentos etc.

Porque a ideia era essa, ir além dos exercícios. Mas também aprender a se alimentar corretamente, ter hábitos de higiene, viver em harmonia na família e no trabalho. Durante as aulas, o professor respondia perguntas e lia homenagens. Uma querida tia minha, tia Sarah, falecida recentemente, adorava o professor. E, de herança, nas coisas dela, encontrei uma carta que ela escreveu com uma letra muito caprichada em homenagem a Oswaldo. Os radioginastas também juntavam dinheiro para comprar presentes para o mestre. Já pensaram o quanto eles economizavam durante o ano sem precisar pagar academias?

Para provar que a ginástica fazia bem mesmo, Oswaldo Diniz Magalhães viveu até os 93 anos e ganhou de seus fãs uma estátua de bronze que está até hoje na Praça Saens Peña, na Tijuca.

“Hora da ginástica” foi o programa que ficou mais tempo no ar em uma rádio brasileira: 51 anos, sendo que 40 ao vivo.  Um recorde. Depois da Nacional, o programa se transferiu para a Rádio MEC e depois para a Rádio Globo, onde acabou. Nos anos 80, os jovens já não acompanhavam o rádio e tinham muitas academias para se exercitar. Todos já tinham consciência de que os exercícios realmente são fundamentais para uma vida saudável.
O internauta Sérgio Carvalho colocou à disposição do público na internet  uma biografia de Oswaldo, com vários capítulos que valem a pena ser lidos.  Muitos jornais e fãs escreveram sobre a importância das aulas e dos conselhos de Oswaldo Diniz Magalhães. João Coelho Netto, por exemplo, em um de seus artigos, disse o seguinte:
"Quantos enfermos ele curou, quantos envelhecidos ele rejuvenesceu, quantas almas vencidas ele animou!"
Segundo a Revista Antena, de 1935, Oswaldo Diniz Magalhães era o atleta do microfone.  O articulista do jornal  A Noite, na coluna Rádio de Humpty-Dumpty, de 1937, escreveu o seguinte: “Este professor de gymnastica ritmica pelo rádio, único no Brasil, não tem alunos dentro do studio, mas tem o Brasil inteiro dentro do studio”.


O jornal A Nação publicou na Secção Rádio, em 1938, que “a obra de Oswaldo Diniz Magalhães é grandiosa sob todos os aspectos. Acordar milhões de brasileiros todas as manhãs e ensinar-lhes exercícios para conservar a saúde e o bom humor; despertando-lhes a consciência para o cumprimento do dever para consigo mesmos; enchendo de fé os descrentes e que já se consideram vencidos; dotando a cidade e o paiz inteiro de novos hábitos, somente com a palavra cheia de sentimentos patrióticos, não é para qualquer um”.

4 comentários:

  1. A minha família durante bom tempo, do final de 1940 à meados de 1950, participou das aulas do professor Oswaldo Diniz Magalhães, logo cedo, ao se levantar da cama. Creio ser uma das razões de mesu pais viverem mais de 90 anos. Eu estou com 77. Espero chegar lá.

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  2. Muito boa matéria - obrigado por divulgar.

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